9/28/2007

Thank God I´m a Woman...



Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.
Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"
Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!
Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.
Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser.

Alexandre O'Neill


8 comentários:

ContorNUS disse...

Deliciosas citações envoltas nas imagens que partilhas e lhe fazem eterna justiça ;)

Anónimo disse...

lindo demais!
seio, forma linda que Deus deu á mulher!
beijocas!

Helena disse...

Lindíssimo! O post, tu, o blog.
Gostei muito que andasse por lá, pelas red lights ;)
Volto aqui e gostava de linkar-te.
Bjos

Eternus disse...

Foram as 3 muito amáveis :)

claro laura, é uma honra:)

Misantrofiado disse...

Em (quase) tom de retribuição, venho aqui antes de mais agradecer esta leitura, isto porque há já algum tempo que não lia o que quer que fosse deste poeta que, não sendo dos meu favoritos, por muitas vezes deambulou nos meu olhos.
O poema é uma espécie de ode, o enaltecer de um pormenor natural feito arte da arte de ser mulher - lindo.

Gostei deste cantinho teu, prometendo voltar (não sabendo muito bem quando), assim que o acesso à internet me for de alguma forma possível.
Obrigado pela visita prestada e espero também corresponder à tua expectativa.
Ciau.

Dalaila disse...

Alexandre O'Neill, é sempre bom senti-lo, obrigada por recordares aqui.

Bj

Lilis disse...

Adoro ser mulher...

:)

(estou mais animada... adoro o Outono... a mha vida emocional e profissional é q andava de rastos... mas já passou...estou bem!Obrigado plo apoio!)

beijos enormes...

até logo!

MARIA MERCEDES disse...

Ol� Cheguei aqui pela m�o da Laura. E gostei bastante. Acho o teu espa�o bastante elegante e feminino. Se n�o te importares, gostaria de linkar-te ao Excita�es.

beijinhos excitantes